Em Agosto de 1991 vim aos Estados Unidos pela primeira vez. Nessa altura, a Delta ainda voava directamente de Lisboa para Nova Iorque, a direito sobre o Atlântico. Embora novata no longo curso não fui a única a bater palmas - de alegria, ou talvez antes, de alívio - logo que a primeira roda do aparelho tocou a pista. Cumprimentava-se assim o piloto por uma aterragem suave.
Pois nessa visita inaugural, para além de Nova Iorque fui ainda a Washington, D.C., à Virgínia e à Luisiana, em companhia de uma amiga de Moçambique que estava mais habituada do que eu ao calor e à humidade. Como fiz alguns dos trajectos de carro, a certa altura dei por mim a ler nomes de grupos, empresas e outras organizações postos em letreiros à beira das auto-estradas. Enfim percebemos que aquilo queria dizer qualquer coisa como isto: daqui ali a limpeza desta estrada é paga por fulano, dali acolá está a cargo de cicrano, mais à frente de beltrano, e por aí adiante. E pensei - "Só na América ... quem teria pensado em dar troços de estrada para adopção? O pior é se ninguém se interessar pelas curvas, lombas e cruzamentos".Por comparação, em Portugal, a manutenção das obras ditas públicas, não está a cargo desse mesmo público, mas sim do Estado ou das autarquias, os quais cobram impostos para o efeito. Claro que lá também há beneméritos, filantropos, patrocinadores, mecenas. Existe mesmo uma Lei do Mecenato, mas não me lembro de alguém propor - "Muito bem, a partir de agora esta estrada fica por minha conta entre o Km 30 e o Km 110; ponham aí o meu nome, se faz favor".
Aprender até morrer, lá diz o ditado. Voltei cá mais vezes; conheci a Califórnia e as suas estradas, também muitas delas "adoptadas". Assim, com o correr do tempo e o somar das milhas, a novidade do conceito foi para mim perdendo a estranheza. Mais ou menos como Fernando Pessoa dizia da Coca-Cola: "Primeiro estranha-se, depois entranha-se". Adopt-a-Highway é na verdade uma daquelas boas ideias práticas em que este país é fértil. É vantajosa do ponto de vista ambiental e comercial, sendo que as estradas ficam limpas sem custos para as cidades e os estados, e os doadores adquirem visibilidade e geram negócio através de publicidade bem colocada. Claramente uma situação do tipo "win-win" (ganhas tu e ganho eu).
Uma boa ideia não deve, porém, rolar sozinha. Aproveitemos o traçado já existente e projectemos-lhe uma paralela, uma nova avenida, o nosso próprio caminho. Gostaria, pois de lançar aqui uma iniciativa bastante semelhante ao assunto que iniciou este artigo, iniciativa a que vou chamar Adopte-Uma-Escola-Portuguesa (Adopt-A-Portuguese-School). No nosso caso, como estamos a falar de educação, o caminho é tanto real como figurativo, pois implica a existência de condições materiais para se realizar e de objectivos claros que indiquem a direcção em que se quer seguir.
1. Adopte-Uma-Escola-Portuguesa baseia-se no conceito de programas já existentes baseados no apoio directo por parte dos cidadãos à manutenção ou desenvolvimento de (infra)estruturas de reconhecida utilidade pública.
2. Adopte-Uma-Escola-Portuguesa, tal como o nome indica, é um projecto que visa contribuir para um Ensino Português de qualidade em todas as escolas (públicas ou privadas) onde já existam ou se venham a desenvolver programas desta natureza.
3. Adopte-Uma-Escola-Portuguesa é um projecto de participação voluntária, individual ou colectiva, em que os doadores escolhem a escola ou programa de Ensino Português que desejam apoiar, sendo as suas contribuições reconhecidas publicamente (embora eles mesmos possam escolher manter-se anónimos).
4. Adopte-Uma-Escola-Portuguesa será administrado pela Portuguese Education Foundation of Central California, enquanto organização educativa para fins não lucrativos, a qual criou uma conta bancária para esse efeito. O projecto contará ainda com a parceria da Coordenação de Ensino Português (CEP-CA), estando aberto à colaboração e envolvimento de outras instituições afins.
5. Adopte-Uma-Escola-Portuguesa tornará públicos os seus objectivos e metas anuais e dará contas dos resultados obtidos nas diversas escolas onde as doações forem investidas, sendo uma das suas prioridades a curto-médio prazo o equipamento de todas as salas de aula das Escolas Comunitárias com, pelo menos, um computador portátil com ligação à Internet.
Não querendo alongar-me mais por agora, já que esta é a primeira vez que estou a apresentar o projecto "Adopte-Uma-Escola-Portuguesa" de forma articulada, vou terminar com três sugestões:
- Se a matéria deste artigo lhe despertou curiosidade e tem o desejo de saber mais sobre o assunto, por favor contacte-me através dos emails adopt.a.portuguese.school@gmail.com ou acsousa@csustan.edu;
- Se já ficou tão motivado(a) a participar e quer ser dos primeiros(as) a inscrever-se neste projecto, envie um email para adopt.a.portuguese.school@gmail.com mencionando:
a. Nome
b. Morada para correspondência
c. Telefone e Telemóvel
d. Escola que deseja apoiar
- Se é professor(a) ou director(a) de uma Escola Comunitária e está interessado(a) em que esta seja apoiada (adoptada), por favor envie um email para adopt.a.portuguese.school@gmail.com indicando:
a. Nome
b. Função exercida na escola
c. Morada para correspondência
d. Telefone e Telemóvel
e. As 3 principais necessidades da sua escola.
Obrigada.
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