A primeira vez que ouvi chamar invisíveis aos portugueses foi na Universidade Nova de Lisboa, julgo que ainda no Outono de 1992. Bem, nem era preciso olhar à volta para pensar "Invisíveis como? Vêmo-nos todos muito bem uns aos outros". Essa foi também a ocasião em que conheci pessoalmente o Dr. Duarte Silva, o professor luso-americano da Universidade de Stanford que acabava de pronunciar tão enigmáticas palavras.
Gosto de pensar que essa conferência foi uma espécie de sinal para o desenrolar da minha futura vida profissional, pois quem poderia adivinhar naquele altura que em finais de Agosto do ano seguinte estaria já na Califórnia. E claro, a primeira coisa que fiz foi verificar com os meus próprios olhos se os portugueses tinham ou não desenvolvido neste novo mundo as artes da invisibilidade.
Uma curiosa invisibilidade essa, não é verdade? Quem se passear por Hilmar, por exemplo, não deixará de sorrir perante essa pretensão. Mas na verdade, vim a descobrir que o Dr. Duarte Silva tinha muita razão (e não só ele, claro) quando falava nessa qualidade do português passar despercebido.
Concordo que numa ou duas ocasiões até será melhor não dar muito nas vistas, principalmente quando se chega de novo a um país e não se sabe bem as linhas com que se cosem os costumes locais. Mas depois de se estar estabelecido, e tão bem estabelecido, o velho hábito já não tem razão de ser. Na verdade, de qualidade inicial, passa a defeito prejudicial.
Na minha procura de informações mais concretas sobre o estado do ensino português na Califórnia, dados que ajudem a pensar em novas estratégias e apresentar sugestões de mudança, encontrei há pouco o seguinte:
No ano lectivo de 2006/07 o Departamento de Educação do Estado da Califórnia elaborou um relatório em que identifica o número de alunos que falam outras línguas para além do inglês e para cujos pais são enviadas informações escolares traduzidas na sua língua, de acordo com o Education Code Section 48985. Foram declarados 1.965 alunos de origem portuguesa com competências limitadas em inglês (English Learners) e 3.138 alunos fluentes em inglês.
Se pretendermos saber em que áreas estes alunos representam pelo menos 15% da população escolar (critério definido pelo relatório), ficaremos provavelmente espantados por haver uma única escola do condado de Fresno que identifica 1 aluno, sendo as outras 3 escolas todas de Hilmar (condado de Merced). Então e San Jose e Tulare e Visalia e ... Custa-me a acreditar que não haja em toda a Califórnia mais escolas em que a concentração de alunos de descendência portuguesa não chegue aos 15%. Ou será que também já sofrem da tão famosa invisibilidade?
Quero fazer a minha modesta contribuição para quebrar esse encantamento. Na próxima recolha de informações sobre as línguas faladas pelos alunos e suas famílias, a decorrer no final deste mês, o meu filho será mais um English Learner de origem portuguesa a engrossar os 15% já existentes na escola Elementar de Elim, e eu, como mãe, quero sim que as informações escolares cheguem a casa em português.
O tradutor pode até querer passar despercebido, mas a sua arte, essa, é bem visível.
23/02/2008
Portugueses Invisíveis
Publicado por
Unknown
às
18:01
Categorias luso-americanos
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