Segundo o censo de 2000 viviam na Califórnia cerca de 36 milhões e meio de pessoas, entre as quais mais de 10 milhões em idade escolar (27%). Nesse universo populacional, 78.400 pessoas declararam que falavam português em casa, sendo esta a quarta língua europeia mais representada no estado. De acordo com estas informações, poderíamos esperar que cerca de 21.000 crianças e jovens tivessem contacto directo com o português no seio das suas famílias, e uma percentagem considerável entre elas também aprendesse a língua na escola. Pergunta-se então: Quantas crianças e jovens luso-dencendentes frequentam actualmente cursos ou classes de português? E será esse número comensurável com as estatísticas populacionais?
Os últimos dados fiáveis de que dispomos para o ensino básico e secundário, foram organizados pela anterior Conselheira para o Ensino Português em Washington e dizem respeito ao ano lectivo de 2003-2004. Nesse ano havia na Califórnia 7 escolas comunitárias com 190 alunos e 21 professores (a 8ª escola não respondeu ao inquérito). Já a nível do ensino público, haveria potencialmente 12 escolas que podiam oferecer Português (embora nem todas tivessem aberto cursos nesse ano), num total provável de 1.061 alunos, desconhecendo-se o número de professores envolvidos. Ora não é preciso fazer muitas contas para chegarmos à conclusão de que, mesmo que estes números não se tinham alterado drasticamente desde 2004 para cá, a percentagem de alunos abrangidos por qualquer tipo de ensino português, ou em português, durante o seu percurso escolar básico e secundário, é ínfima.
Não me vou debruçar neste momento sobre as razões profundas desta tão grande distância existente entre o número de alunos que seria desejável frequentarem cursos de português, e o total real. Mas há duas coisas que me parecem absolutamente necessárias fazer no mais breve espaço de tempo:
- Rever o panorama do ensino português com cuidado, efectuando um estudo mais detalhado de todas as escolas e programas existentes, pois só assim poderemos ter uma visão realista do estado do mesmo, tanto a nível privado como público. Como este esforço só trará algum resultado prático se contar com a colaboração daqueles que têm acesso a esse tipo de informações, peço desde já a sua ajuda para as iniciativas que proximamente tornarei públicas.
- Decorrente do estudo a efectuar, é preciso identificar claramente as principais áreas de carência no actual panorama do ensino (falta de materiais? poucos professores? insuficiente pressão dos pais?) e definir estratégias para as resolver, criando um Plano de Acção a curto, médio e longo prazo, identificando igualmente as pessoas e/ou organizações que vão desenvolver essas acções.
O título deste artigo, não pretendendo ser meramente alarmista, coloca uma pergunta cuja resposta não pode ser por mais tempo adiada. Essa resposta tem de ser colectiva, pois a enormidade da tarefa não pode recair sobre os ombros nem de uma, nem de umas poucas pessoas. Enquanto comunidade, temos de nos perguntar:
- O que podemos todos fazer para impedir que o ensino português se torne um acontecimento do passado?
- O que podemos todos fazer para garantir que o ensino português seja uma realidade que acompanhará o futuro das nossas crianças e jovens enquanto cidadãos bilingues deste país e do mundo?
Penso que a resposta vai exigir de nós muita imaginação, uma grande dose de inteligência e todo o saber que pudermos reunir no seio das nossas comunidades e associações.
Esperamos por si, contamos consigo.
Sem comentários:
Enviar um comentário