15/07/2009

ePostal de Lisboa


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Chegar a Lisboa em Junho após quase um ano de ausência é sempre um prazer cheio de surpresas. Junho é um mês buliçoso, o culminar da temporada antes das prometidas férias de Verão, altura em que Lisboa pode então fazer a sesta ao fresco da brisa ribeirinha.

E que lindo é o Tejo ali perto das Docas de Alcântara. O Centro de Congressos de Lisboa foi um sítio bem escolhido para ir ouvir novidades sobre o Plano Tecnológico da Educação (PTE) que o Governo Português está a desenvolver com o intuito de "colocar Portugal entre os cinco países Europeus mais avançados ao nível de modernização tecnológica do ensino".

O "Fórum de Lisboa sobre TIC e Inovação na Educação" (Lisbon Forum on Innovative Approaches to ICT in Education) foi organizado pela Coordenação do PTE (Ministério da Educação) nos dias 18 e 19 de Junho, reunindo prestigiadas personalidades nacionais e internacionais, para além da participação da Ministra da Educação na sessão de abertura.

Eis a minha primeira surpresa: a elevada qualidade do serviço prestado aos participantes, totalmente gratuito, incluindo tradução simultânea, lanches e o almoço de sexta-feira.

A minha segunda surpresa: o público era constituído por uma maioria de professores portugueses das escolas públicas até ao ensino secundário.

A minha terceira surpresa: pela primeira vez desde meados dos anos 90, quando comecei a conviver com a tecnologia no ensino e a participar em congressos semelhantes, senti que em Portugal se está a formar uma comunidade profissional de educadores (e não só de académicos) com quem finalmente poderei passar a discutir estes temas a partir de uma realidade comum, ainda que com experiências diferentes. É na verdade agradável ver assim validados os nossos esforços após anos de trabalho mais ou menos solitário.

Só por isso valeu a pena a visita. E não tive nenhum pejo em dizer publicamente à audiência o como me sentia orgulhosa em poder regressar à Califórnia e apresentar o caso português como um exemplo a ter em conta em matéria da utilização das tecnologias no ensino e formação de cidadãos do século XXI.

No entanto, não fui só eu a gabar o avanço e o esforço do investimento tecnológico português no ensino. Repetidamente os oradores estrangeiros o fizeram. E esta foi a minha quarta surpresa: pela primeira vez vi em acção uma parceria constituída pelo governo de um país (Portugal) e três das maiores corporações do mundo em matéria de tecnologia: a Cisco, a Intel e a Microsoft. E se esses senhores dizem que Portugal já é um estudo de caso, então é porque deve ser mesmo.

Na verdade, Portugal é um dos membros fundadores do projecto internacional "Avaliação e Ensino das Competências do Século XXI" (Assessment and Teaching of 21st Century Skills Project) , conduzido pela Universidade de Melbourne, a par da Austrália, Finlândia, Singapura e Reino Unido. Entre os objectivos deste projecto contam-se o desenvolvimento de um sistema de testagem por meio de computador das competências interdisciplinares dos alunos nas áreas da resolução de problemas, habilidades de adaptação, criatividade e capacidade para o trabalho colaborativo.

Pensando na tão diferente realidade tecnológica da maioria das escolas públicas e comunitárias na Califórnia, e no modo como poderemos vir a usufruir das sinergias recentemente criadas em Portugal, aproveitei ainda a participação neste fórum para me apresentar pessoalmente ao Coordenador do PTE, Dr. João Trocado da Mata, e saber novidades sobre a anunciada possibilidade de os alunos dos níveis elementares envolvidos no Ensino Português (EP) poderem vir a receber o computador portátil Magalhães, tal como está a acontecer com os seus colegas em Portugal.

A resposta não foi um inequívoco sim, mas delineou as possibilidades da sua concretização. Também em relação a este tipo de equipamento o Governo Português estabeleceu parcerias com terceiros, neste caso as operadoras de comunicações móveis, as quais fornecem também a ligação à internet. Assim, coloca-se a questão de saber se as operadoras portuguesas vão ou não estabelecer, por seu lado, parcerias com as operadoras americanas locais, permitindo a entrega desses computadores às crianças.

Embora não me pareça ser de todo impossível a realização destas intenções, tomando como exemplo as parcerias internacionais que referi acima, parece-me que o processo poderá ser muito moroso se não for ajudado pelos próprios cidadãos a quem se destina este benefício. Aqui ficam duas sugestões.

Por um lado, as comunidades luso-americanas na Califórnia poderão encontar uma forma de pressão política sobre decisores e agentes económicos através dos seus representantes (nomeadamente o Conselho das Comunidades), de forma a apressar o processo de entrega dos portáteis Magalhães.

Por outro lado, as comunidades e associações luso-americanas podem simplesmente adoptar a ideia e criar o seu próprio programa "Magalhães", contribuindo para a aquisição e distribuição de equipamento e materiais de ensino às escolas e alunos EP. A realização de um projecto local autónomo não depende de qualquer factor ou interveniente externo, mas somente do interesse e envolvimento de todos os que desejam oferecer as melhores oportunidades educativas às gerações mais jovens.

É nesse sentido que a Coordenação do Ensino Português (CEP.CA) vai lançar em Setembro o projecto ADOPT-A-PORTUGUESE-SCHOOL (Adopte-uma-Escola-Portuguesa) em parceria com associações educativas luso-americanas, o qual permitirá identificar exactamente as necessidades educativas de todas as escolas, professores e alunos EP na Califórnia, e reunir os esforços e contribuições de todos os que acreditam que a língua e a cultura Portuguesas também são um valor das comunidades luso-americanas.


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